Tartaruga recém-nascida rasteja para fora do buraco de areia, coberta de areia, na Ilha do Príncipe.

Temporada das Tartarugas no Príncipe: Noites de Magia Silenciosa e Conservação Transformadora

Temporada das Tartarugas no Príncipe: Noites de Magia Silenciosa e Conservação Transformadora.

Quando o sol se põe sobre o Príncipe e as últimas cores desaparecem do céu, um novo ritmo começa nas margens selvagens da ilha. Sob o manto da noite, tartarugas marinhas fêmeas regressam às praias onde nasceram, guiadas por instintos mais antigos do que a memória.

A temporada das tartarugas no Príncipe não é um espetáculo que se possa agendar. É um encontro silencioso e comovente com a natureza, nos seus próprios termos, e um convite para fazer parte de uma história de conservação que está a transformar tanto os ecossistemas da ilha como as suas comunidades.

Um Santuário para Cinco Espécies

Das sete espécies de tartarugas marinhas do mundo, cinco podem ser encontradas nas águas de São Tomé e Príncipe.

No Príncipe, três delas nidificam regularmente nas praias da ilha:

  • Tartaruga-verde (Chelonia mydas) – conhecida localmente como Mão Branca ou Verde, é a mais comum e a principal espécie que os visitantes têm probabilidade de observar.
  • Tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) – Sada ou de Pente, uma espécie padronizada que também vem à costa para nidificar.
  • Tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) – Ambulância ou de Couro, a maior de todas as tartarugas marinhas e a visitante mais rara das praias do Príncipe. Adultos podem atingir até 2,7 metros de comprimento e pesar até 500 kg.
  • Tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) – Tatô, já foi registada a nidificar apenas algumas vezes
  • Tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) é ocasionalmente avistada nas águas circundantes, mas não nidifica nas praias da ilha.

Estes antigos navegadores são mais do que uma bela visão. As tartarugas marinhas são espécies-fundamentais e a sua presença indica um ecossistema saudável. Ao pastar, alimentar-se e mover-se entre habitats, ajudam a manter o equilíbrio dos prados marinhos, recifes de coral e praias. Quando as tartarugas desaparecem, processos naturais inteiros começam a desfazer-se.

Como explica Jormicilesa Dias, Gestora de Projeto Júnior e Educadora Ambiental da Fundação Príncipe:

"Como bióloga, sou apaixonada pela vida e pelos animais. Trabalhar na proteção das tartarugas marinhas só aprofundou essa paixão. Nos últimos cinco anos na Fundação Príncipe, com o projeto ProTetuga, dediquei-me à proteção e conservação destas espécies e à sensibilização sobre a importância das tartarugas para as pessoas do Príncipe e para o equilíbrio do nosso ecossistema."

Tartarugas recém-nascidas a caminho do oceano na Ilha do Príncipe

Quando Visitar: Nidificação e Eclosão

No Príncipe, a temporada das tartarugas desenrola-se em dois grandes momentos:

Nidificação – novembro a fevereiro

FACTO PRINCIPAL: A nidificação ocorre durante a noite, principalmente em praias isoladas como a Praia Grande.

Durante a noite, as fêmeas emergem do oceano para cavar os ninhos e pôr os ovos. Com sorte, numa visita à Praia Grande, poderá assistir a uma mãe tartaruga a arrastar-se lentamente pela praia, escolher o local e começar a nidificar. Com ainda mais sorte, poderá testemunhar várias tartarugas a nidificar sob a luz da lua.

Eclosão – fevereiro a abril

É BOM SABER: A eclosão ocorre geralmente à noite ou de manhã cedo – ideal para famílias.

Após cerca de dois meses de incubação, as pequenas tartarugas nascem na areia e, instintivamente, começam a escavar caminho até à superfície. A eclosão ocorre muitas vezes ao entardecer ou de manhã cedo, sendo uma experiência especialmente marcante para famílias com crianças.

Como se trata de um processo natural, não há garantias sobre o que poderá ver em cada visita. Nalguns dias, surge a visão inesquecível de uma fêmea a nidificar; noutros, apenas rastos na areia e o trabalho silencioso da equipa de monitorização. A magia está precisamente nessa incerteza.

Uma linha de palmeiras com a praia tropical e a água cristalina ao fundo na Praia Boi.

Uma Noite na Praia: Como é a Experiência

FACTO PRINCIPAL: Os grupos são propositadamente mantidos pequenos – no máximo seis pessoas por guia, incluindo crianças.

Para os hóspedes, uma saída típica para ver tartarugas é íntima, simples e profundamente atmosférica.

  • Início: Por volta das 18h30–19h00, o guia conduz até uma das principais praias de nidificação, como a Praia Grande.
     
  • Primeira paragem – Museu Kaxí Tetuga: Os hóspedes visitam o pequeno museu da Fundação Príncipe, onde aprendem sobre o ciclo de vida das tartarugas, as ameaças que enfrentam (da erosão costeira à poluição plástica e caça ilegal) e o trabalho de conservação em curso.
     
  • Na praia, caminha-se com o guia e os monitores da Fundação Príncipe, em silêncio e devagar na escuridão. Os grupos são pequenos (máx. 6 pessoas por guia, incluindo crianças) para minimizar o impacto e manter a experiência pessoal.
     
  • À noite, a praia ganha vida. Como gosta de lembrar o Vander Santo, Gestor de Experiências da Principe Collection, há muitos caranguejos a atravessar a areia, por isso convém olhar por onde se pisa – e não se assustar se algo pequeno roçar os tornozelos no escuro.


O Que Pode Ver à Luz da Lua

É BOM SABER: Poderá ver tanto as tartarugas a aninhar como a equipa de monitorização em ação – cada visita contribui para a conservação.

A natureza segue o seu próprio ritmo e cada encontro com tartarugas é único. Mas, quando tudo se alinha, as cenas são inesquecíveis:

  • Fêmeas a nidificar – Pode ver uma tartaruga emergir do mar, cavar o ninho e pôr os ovos. Durante este processo, os monitores da Fundação Príncipe medem e, se necessário, marcam as tartarugas. A marcação é vital para estudar rotas migratórias, alimentação e hábitos marinhos.
     
  • Monitorização e recolha de dados – Se a visita coincidir com um evento de nidificação, poderá observar a equipa a medir, verificar marcas e registar o local do ninho.
     
  • Rastros e sinais – Mesmo quando não há tartarugas, a areia conta histórias: rastos frescos, ninhos e as pegadas cuidadosas dos monitores.

Por vezes, muito raramente, os hóspedes presenciam algo verdadeiramente extraordinário. Emma Tuzinkiewicz, Diretora de Sustentabilidade da HBD Príncipe, recorda:

"Ver uma tartaruga-de-couro a nidificar na Praia Grande foi das experiências mais mágicas da minha vida. São enormes – as maiores de todas – e, no entanto, tão gentis e determinadas. Fiquei maravilhada durante muito tempo a observá-la. É o tipo de momento que fica para sempre.

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O “Boil” e a Corrida para o Mar: Um Espetáculo Diurno

FACTO PRINCIPAL: Uma "ebulição" ocorre quando a areia irrompe repentinamente, libertando dezenas de pequenas crias de uma só vez.

Se visitar na altura certa, pode presenciar o chamado “boil” – o momento em que a superfície da areia começa a tremer e dezenas de pequenas tartarugas emergem de repente.

Durante o dia, os monitores da Fundação Príncipe escavam ninhos já eclodidos para avaliar o sucesso da eclosão e libertam, com cuidado, as tartarugas que tiveram dificuldade em sair sozinhas, dando aos hóspedes a oportunidade rara de assistir a este momento.

Guiadas apenas pelo instinto, as crias correm para o horizonte mais brilhante – normalmente o reflexo do sol no mar – e para a inclinação natural da praia. A viagem parece caótica, mas cada movimento é intencional: fugir das sombras, alcançar o mar.

Ao chegar à água, entram numa “corrida de natação” frenética para águas mais profundas e seguras. É uma janela breve e emocionante para os minutos mais vulneráveis das suas vidas – uma experiência especialmente marcante para crianças, que muitas vezes torcem pelas pequenas tartarugas.

É um privilégio raro testemunhar os primeiros passos de uma tartaruga marinha no mundo. Vê-las chegar ao oceano é um momento inesquecível, quase irreal.

Tartaruga recém-nascida a caminho do oceano na Ilha do Príncipe

Ética em Primeiro Lugar: Como Protegemos Aquilo Que Veio Ver

É BOM SABER: O bem-estar das tartarugas está sempre acima da experiência do visitante.

A observação de tartarugas no Príncipe segue um princípio claro: o bem-estar das tartarugas está sempre acima da experiência do visitante.

Antes de entrar na praia, o guia explica algumas regras essenciais, baseadas nas diretrizes da Fundação Príncipe:

  • Não tocar – nem nas fêmeas nem nas crias. O contacto humano pode causar stress, alterar comportamentos e até levar uma fêmea a abandonar o ninho. Pode ainda expor as crias a químicos como protetor solar ou repelente.
     
  • Sem luzes brancas ou flash – luz forte pode desorientar adultos e crias, afastando-as do mar. Guias e monitores usam luz vermelha, menos visível para as tartarugas, permitindo observar sem perturbar. 
     
  • Manter distância e silêncio – esta é a noite delas, não a nossa.

Como diz Jaconias Pereira, Supervisor Geral da equipa ProTetuga:

"O meu trabalho com o projeto ProTetuga contribuiu muito para a proteção das tartarugas no Príncipe e para o envolvimento das comunidades locais. Com monitorização e sensibilização, mantemos forte cooperação entre pescadores e a equipa de proteção.

Dois locais com camisetas Pro Tetuga azul claro e calções sorriem para nós na praia da Ilha do Príncipe.

Comunidade no Coração da Conservação

FACTO PRINCIPAL: Na época de 2025–2026, cerca de 31 pessoas – incluindo cinco mulheres – estão diretamente empregadas na conservação das tartarugas.

Um dos aspetos mais poderosos da temporada das tartarugas no Príncipe é o envolvimento profundo das comunidades locais. Todos os monitores e supervisores do ProTetuga são da comunidade. Na temporada 2025–2026, cerca de 31 pessoas, incluindo cinco mulheres – trabalham diretamente na conservação. Monitores locais patrulham as praias dia e noite, vigiando ninhos e registando atividade.

Guias da associação oficial da ilha e da HBD são especialmente formados pela Fundação Príncipe para liderar saídas éticas e passar a mensagem de conservação aos visitantes.

Cada hóspede contribui financeiramente: Do valor da experiência, 15€ por adulto e 10€ por criança (6–12 anos) vão diretamente para o Fundo Comunitário gerido pela Fundação Príncipe.

Este fundo apoia o Concurso Comunitário, que recompensa aldeias que mantêm as áreas limpas, adotam práticas sustentáveis e evitam a caça de tartarugas ou recolha de ovos. Em vez de prémios monetários diretos, a Fundação Príncipe paga fornecedores dos projetos aprovados, garantindo que os benefícios chegam a iniciativas locais relevantes e reforçando valores de conservação.

Por trás dos números, há histórias de mudança real. Uma das mais marcantes é a do Senhor Nelo, da comunidade de Santo Cristo. Antes um caçador prolífico de tartarugas, deixou a atividade após participar nas ações de sensibilização do ProTetuga. Hoje, incentiva outros pescadores a proteger as tartarugas e já venceu um Concurso de Pescadores, partilhando a sua história na rádio local como exemplo de transformação.

Uma pessoa a flutuar num pequeno barco de madeira sobre o mar perto da Ilha de São Tomé

Impacto Mensurável: Dezenas de Milhares de Crias

É BOM SABER: Em algumas temporadas, mais de 150.000 crias foram libertadas nas praias do Príncipe.

Desde 2015, a Fundação Príncipe e o projeto ProTetuga monitorizam e protegem ninhos por toda a ilha. Ano após ano, o número de crias libertadas no mar tem crescido, com picos superiores a 150.000 num só ano. 

Só na temporada 2024–2025, foram libertadas em segurança 28.886 crias – cada uma um pequeno e determinado embaixador do futuro da ilha.

 

Porque a Temporada das Tartarugas no Príncipe é Diferente

FACTO PRINCIPAL: A observação de tartarugas tornou-se popular em todo o mundo – mas o Príncipe oferece algo raro:

  • Praias selvagens e praticamente intocadas, de difícil acesso e sem turismo de massas.
  • Grupos pequenos e visitas de baixo impacto, sempre conduzidas por guias e monitores formados, com luz vermelha e protocolos éticos rigorosos.
  • Forte envolvimento comunitário, desde quem patrulha as praias até às crianças que pintam murais a dizer “uma tartaruga viva vale mais do que uma morta”.

Aqui, não há multidões, luzes fortes ou encontros encenados. Apenas você, alguns poucos viajantes e a possibilidade de testemunhar um dos rituais mais antigos da natureza sob um céu cheio de estrelas.

Pegada turquesa sobre fundo bege como impressão at Sundy Praia

Experiências Que Ficam Para Sempre

Para diferentes hóspedes, a temporada das tartarugas tem significados distintos:

  • Para amantes da natureza, é uma noite de puro deslumbramento – ver um animal que pode ter atravessado oceanos regressar, com precisão, à praia onde nasceu.
     
  • Para famílias, é uma forma poderosa e tranquila de falar com as crianças sobre os ciclos da vida, paciência e o impacto do plástico e da poluição – tudo enquanto caminham numa praia escura, cheia de caranguejos e ondas, e talvez assistam a crias a correr para o mar.
     
  • Para viajantes habituados ao luxo, é um lembrete de que o verdadeiro luxo pode ser tão simples como estar descalço na areia, longe de multidões, a presenciar algo que poucos no mundo verão. Não é uma experiência de “glamour”, mas sim crua, elementar e profundamente tocante.

Como resume a Emma:

"Se tiver a sorte de ver uma tartaruga a nidificar ou crias a correr para o mar, sente-se quase como um momento espiritual. É o tipo de experiência que fica no coração e surpreende a mente muito depois de se deixar a ilha.

 

Para Além da Praia: Experiências Complementares

Para aprofundar a ligação ao mundo marinho do Príncipe durante a temporada das tartarugas, sugerimos combinar a noite na praia com:

  • Um passeio de barco ou mergulho/snorkeling, para experienciar as águas destas tartarugas – com sorte, pode ver uma a nadar sob a superfície. 
     
  • Uma limpeza de praia ou jantar à luz de velas junto ao mar, refletindo sobre como a lua, as marés e a saúde dos oceanos moldam a vida destes animais.

Juntos, estes momentos criam uma narrativa tanto sobre as pessoas como sobre as tartarugas: uma ilha que aprende a proteger o que a torna única – e a partilhar isso consigo.

O Nosso Compromisso Partilhado

A Fundação Príncipe, através do projeto ProTetuga, monitoriza e protege tartarugas marinhas no Príncipe desde 2015, trabalhando com autoridades regionais, comunidades locais e parceiros como a HBD. A visão é simples e ambiciosa:

Fazer do Príncipe um verdadeiro santuário para tartarugas marinhas – e um exemplo global de como conservação e comunidade podem prosperar juntas.

 

Cada hóspede que participa numa saída de tartarugas faz parte desta história. Pode chegar à procura de uma fotografia; provavelmente partirá com algo muito mais duradouro: um sentimento de deslumbramento, responsabilidade e ligação que permanece muito depois de as pegadas e rastos das tartarugas terem desaparecido.

Três locais na praia de Principe Island, um com um recipiente de plástico na mão.

Principais Destaques

  • A temporada das tartarugas no Príncipe decorre de novembro a abril
    Nidificação: novembro a fevereiro
    Eclosão: fevereiro a abril
     
  • Diretrizes éticas garantem o mínimo de perturbação para as tartarugas
     
  • Cada hóspede contribui diretamente para a conservação local
     
  • O Príncipe oferece uma das experiências de observação de tartarugas mais íntimas do mundo
     

 

Perguntas Frequentes

Qual a melhor altura para ver tartarugas no Príncipe?
Entre novembro e abril. A nidificação ocorre no início da temporada; a eclosão mais para o final.

A observação é garantida?
Não – os avistamentos dependem inteiramente das condições naturais.

As crianças podem participar?
Sim. Crianças a partir dos seis anos podem participar.

Quanto tempo dura uma saída para ver tartarugas?
Normalmente entre duas a três horas, começando pouco depois do pôr do sol.

Quais as praias usadas para a observação de tartarugas no Príncipe?
A Praia Grande é o principal local de nidificação visitado com monitores treinados.

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